Vida de Universitário #1: Psicologia


De: Bárbara Benati – 14 anos

Entrevistados: Pedro Ernesto (USP) e Júlia Ribeiro (USP)

     Primeiro artigo da nossa nova série! “Vida de universitário” aproximará o cotidiano de alunos de universidades públicas e privadas ao “vestibulando indeciso”. Dúvidas que todo aluno de Ensino Médio gostaria de perguntar, não só do curso em específico, mas também do cotidiano de um universitário, se é muito diferente do Ensino Médio etc. Nosso primeiro artigo relata com detalhes, como é o curso de psicologia e como é o Ensino Superior em si.
     “Posso dizer que psicologia é um curso fascinante e apaixonante, mas demanda muita dedicação, leitura, “cabeça aberta” e principalmente gostar muito de lidar com pessoas.” – Julia Ribeiro, estudante de Psicologia da Universidade de São Paulo.

     “É impossível passar pelo curso incólume: uma hora você descobre que existe muito desvario no comportamento dito “normal” e que há sanidade na loucura.” – Pedro Ernesto, estudante de Psicologia da Universidade de São Paulo.
Símbolo do curso de Psicologia
(Fonte da imagem: kkbeauty)

     O curso de Psicologia da Universidade de São Paulo ministrado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeira Preto (FFCLRP)  possui duração de 10 semestres, no período integral, onde os candidatos devem prestar o vestibular da FUVEST para ingressar na faculdade. O curso conta com 40 vagas disponíveis. Mais desses detalhes em: USP Psicologia.

Perguntas da entrevista:
     1. Resuma “o que é cursar psicologia?”.
     2. Como foi a escolha do curso?
     3. É seu primeiro curso? Se não, qual o anterior?
     4. Qual foi sua principal preocupação antes do vestibular? Quais prestou e em quais passou?
     5. Qual foi sua maior dificuldade em relação à entrada na faculdade?
     6. Qual a principal diferença do dia à dia no Ensino Médio para a Faculdade?
     7. Você mudou de cidade para cursar psicologia? Se sim, como foi tal experiência? Sua família lhe apoiou?
     8. Como foi o primeiro ano na faculdade?
     9. Você trabalha? Se sim, como concilia as aulas com o emprego?
     10. Comente as oportunidades que foram abertas a você desde que iniciou o curso.
     11. Você participa de pesquisas, estágios ou projetos do tipo? Caso participe, explique como funciona e quais seus pontos favoritos.
     12. Já fez intercâmbio? Sua universidade lhe oferece alguma oportunidade similar?
     13. Quais matérias você tem ao longo do curso? Encontrou alguma que julgou inusitada?
     14. Como você se prepara para as avaliações e trabalhos? Tem alguma dica que futuramente possa nos ajudar?
     15. Quais são as melhores coisas de estar numa universidade? E as piores?
     16. Como você se enxerga daqui a 10 anos?
     17. Pretende fazer pós-graduação, mestrado, doutorado ou alguma especialização? Caso pretenda, em que? Como funcionam?
     18. Alguma vez já pensou em desistir? Se sim, por que e o quê lhe fez mudar de ideia?
     19. O que você diria a alguém que está indeciso sobre qual curso escolher?

Nome: Pedro Ernesto
Universidade/curso: USP/Psicologia
Período/ano: 10º período/5º ano
Cidade natal: Goiânia – GO
Cidade atual: Ribeirão Preto – SP
Idade: 27
Nome: Julia Ribeiro
Universidade/curso: USP/Psicologia
Período/ano: 6º período/3º ano
Cidade natal: Salto – SP
Cidade atual: Ribeirão Preto
Idade: 20


-- Resuma “o que é cursar psicologia?”


     PEDRO: “O curso de psicologia é bastante heterogêneo. Como existem diversas linhas teóricas dentro da psicologia, algumas vezes a discussão se empobrece porque cada um busca defender sua abordagem ao invés de tentar realizar uma discussão mais madura entre as diversas formas de se pensar o homem.     O curso não é tão complicado – intelectualmente falando. Não estou dizendo que psicologia é algo simples, mas sim que a exigência para ser aprovado nas disciplinas é muito baixa (algo que não ocorre na matemática). Por outro lado, é um curso bastante delicado do ponto de vista emocional.
     Acho que uma grande forma de se estudar psicologia é via literatura. Os grandes escritores foram grandes conhecedores da alma humana, disso não há dúvidas.
     As perspectivas de mercado do curso não são as melhores. Por outro lado, as possibilidades de atuação são inúmeras (psicoterapia, orientação profissional, gestão de pessoas, psicologia judiciária, exames psicotécnicos, etc.)”.

     JÚLIA: “O que mais me atrai no meu curso é a possibilidade de ajudar e influenciar as pessoas, além do crescimento pessoal que ele me traz. Ás vezes leio um texto ou assisto a uma aula que me fazem ter uma outra concepção do mundo e da minha própria vida e amo isso! Acho que as maiores dificuldades são: lidar com diferentes teorias sobre os mesmo fenômenos e entender que não existe certo e errado, além disso, ao fim do curso, acho que a maior dificuldade é conseguir o primeiro emprego.
     Em relação a como a sociedade enxerga, existem diferentes visões. Para alguns o psicólogo ainda é visto como “coisa de gente louca”, para outros é visto como um profissional essencial em todas as organizações, para outros o papel do psicólogo não é tão importante para a sociedade. Mas, de maneira geral, acredito que a imagem do psicólogo vem sendo cada vez mais positiva e valorizada”.


-- Como foi a escolha do curso?

     PEDRO: “Em 2007, aproximava-se o final da minha primeira graduação. Eu sempre fui uma pessoa de interesses diversificados e, por isso, havia em mim o desejo de dedicar mais alguns anos da minha vida ao estudo sistemático de alguma área do conhecimento.
     Eu tinha um amplo leque de possibilidades atraentes à minha frente: letras, história, filosofia. A maioria desses cursos, entretanto, me colocava um sério problema: as possibilidades de atuação profissional com um diploma destes na mão resumiam-se basicamente a ser professor. Com a minha formação em Matemática, eu já poderia ser professor e eu queria ter, no futuro, a opção de ser não só professor.
     Em setembro daquele ano, eu assisti a um filme cujo título no Brasil saiu como ‘Natureza quase humana’. Hoje, mais velho, o filme me parece um tanto ingênuo, mas, naquela época, ele exerceu forte influência sobre mim.
     O filme trata de uma questão muito cara à psicologia: o debate natureza x cultura (nature x nurture), isto é, até que ponto a origem dos nossos comportamentos é resultado da nossa biologia ou do ambiente que nos cerca. A discussão é complexa e nós estamos ainda longe de um consenso.
     Interessado em ler algo sobre psicologia, fui à biblioteca e peguei um pequeno livro intitulado ‘5 lições de psicanálise’, de Sigmund Freud. Fiquei extremamente seduzido pelas questões colocadas ali. Daí até me decidir pelo curso de psicologia foi apenas uma questão de tempo.”

     JÚLIA: “A escolha de um curso superior sempre foi muito difícil para mim. Eu estava em dúvida entre medicina, direito, psicologia e jornalismo. O sonho do meu pai era que eu fizesse medicina e da minha mãe direito. O que eu queria mesmo era poder ajudar as pessoas de alguma forma. O terceiro ano do Ensino Médio foi muito frustrante por conta disso, eu não conseguia me decidir. Li um pouco sobre psicologia e assisti a um vídeo que mostrava uma psicóloga que trabalhava com crianças com câncer, achei muito bonito o trabalho e vi que tinha ‘tudo a ver comigo’, sempre amei estar em contato com pessoas e ouvi-las, então decidi: é isso que eu quero para mim!
     Acredito que a escolha de uma profissão envolva não só a questão: o que eu quero fazer? Mas, principalmente, que tipo de pessoa quero ser? Quais são meus princípios e o que eles têm em comum com os princípios dessa profissão? Descobri que a psicologia é pautada no respeito ao outro e esse foi o principal fator que me levou a fazer essa escolha.”

-- É seu primeiro curso? Se não, qual o anterior?

     PEDRO: “Sou graduado em Matemática pela Unicamp.”

     JÚLIA: “Sim, é meu primeiro curso.”

-- Qual foi sua principal preocupação antes do vestibular? Quais prestou e em quais passou?

     PEDRO: “Quando eu prestei vestibular para psicologia, eu já contava com 23 anos. A decisão foi bem pensada e eu estava confiante de que iria ser aprovado. Portanto, eu estava razoavelmente tranquilo.
     Agora, quando eu tinha 18 anos e prestava vestibular pela primeira vez a coisa foi um tanto diferente. Eu estava preocupado em mudar de cidade, longe do amparo dos pais e da presença dos amigos. Eu estava com medo de enfrentar sozinho todo um novo mundo se abrindo para mim. Hoje, porém, considero que tomei a melhor decisão.
     Fui aprovado em todos os vestibulares que concorri: matemática na Unicamp e na USP (2004) e psicologia na USP e na UFSC (2009).”

     JÚLIA: “O meu terceiro ano do Ensino Médio foi muito conturbado, eu trabalhava, fazia balé, teatro, e decidi que não ia deixar de fazer nada disso para passar no vestibular. Então, foram difíceis as muitas madrugadas de estudo, os finais de semana e as férias mergulhadas em física (era minha maior dificuldade), queria muito realizar meu grande sonho de entrar na USP e não queria ter que fazer cursinho. Mas, acredito que a maior dificuldade mesmo foi encontrar motivação para estudar sem ao menos saber que curso eu queria fazer (só tomei a decisão final na semana de inscrições para os vestibulares), sempre vinha aquela questão, ‘estou me matando de estudar para quê mesmo?’. Eu escolhi prestar a UNESP, a UFTM e a USP e, felizmente, passei nas três.”

-- Qual foi sua maior dificuldade em relação à entrada na faculdade?

     JÚLIA: “Minhas principais dificuldades ao entrar na faculdade foram, primeiramente, o ritmo de estudo. A universidade é muito diferente da escola, nada vem ‘pronto’, você tem que correr atrás de tudo. Além disso, a carga de leitura era muito alta. Minha segunda e maior dificuldade foi ficar longe da minha família e amigos de minha cidade natal, eu estava a 300 km longe de casa e não era possível sempre voltar, muitas vezes liguei para minha mãe chorando de saudades até me adaptar.”

-- Qual a principal diferença do dia à dia no Ensino Médio para a Faculdade?

     PEDRO: “A responsabilidade. Na faculdade, ninguém irá te dizer para estudar ou para fazer os exercícios porque isso é responsabilidade sua.”

     JÚLIA: “A principal diferença é que você tem que estudar muito mais! A faculdade exige muito mais dedicação e autonomia.”  

--  Você mudou de cidade para cursar psicologia? Se sim, como foi tal experiência? Sua família lhe apoiou?

     PEDRO: “Eu fui para bem longe de casa. Morei até os 18 anos em Goiânia e em 2004 fui estudar em Campinas (SP). Morar tão longe dos pais sendo tão jovem é uma experiência difícil de descrever. É um exercício constante de uma liberdade repentina e total. Quando digo liberdade estou me referindo a autonomia, tomada de decisões, tomar conta de si. Embora isso possa parecer o paraíso para pessoas mais jovens, eu preciso dizer que é algo que muitas vezes se revela bastante complicado. A liberdade nos torna responsáveis sobre as próprias escolhas e, quando somos ainda muito jovens e imaturos, é difícil conseguir responder por tudo o que você é e faz. Minha família sempre me apoiou.”

     JÚLIA: “Estudar fora de casa sempre foi um sonho, e acredito que foi a melhor escolha que eu fiz na minha vida. É uma experiência maravilhosa, você amadurece muito, aprende a “se virar sozinho”, a conviver com pessoas diferentes, a cozinhar, a trocar um chuveiro queimado, a economizar dinheiro e pagar suas contas. Acho que todo mundo deveria passar por essa experiência! Minha família sempre me apoiou sim, foi bem tranquilo tomar essa decisão. Posso dizer que morar fora é ganhar uma nova família!”

-- Como foi o primeiro ano da faculdade?

     PEDRO: “A melhor palavra que consigo usar para falar do meu primeiro ano é “densidade”. Muitas situações novas aconteceram. Eu não tinha mais meu pai para me forçar a sair da cama de manhã para ir para a aula. Eu não era mais o melhor aluno da sala nem o “queridinho” dos professores – eu era só mais um. Eu não tinha minha mãe para me tranqüilizar. Eu tinha que fazer novos amigos. Eu tinha que conhecer a cidade, descobrir lugares que me interessassem. Eu tinha que dividir quarto com desconhecidos. Eu tinha que aprender a ser o responsável pela minha alimentação. Eu tinha que aprender a lembrar datas de fazer pagamentos no banco. Enfim, acho que deu para entender o que eu quis dizer com ‘densidade’.”

-- Você trabalha? Se sim, como concilia as aulas com o emprego?

     PEDRO: “Na minha primeira graduação trabalhei 1 ano e meio na monitoria da própria faculdade. Era tranqüilo porque o trabalho fazia parte das coisas que eu estudava na época.
     Agora, sou professor – a maioria do tempo, com grande prazer em sê-lo. Eu concilio o trabalho com os estudos pegando algumas matérias a menos na faculdade. Isso vai atrasar minha formatura em 1 ano, mas, ao mesmo tempo, quando eu me formar, terei tido um currículo muito mais extenso em disciplinas optativas e em horas de estágio. Essa foi a maneira que eu encontrei de estudar com mais calma sem ficar muito sobrecarregado.”

     JÚLIA: “Sim, eu trabalho, sou presidente da Irhis – Consultoria Júnior em Psicologia, que, como toda Empresa Júnior, não possui fins lucrativos. É bem difícil conciliar a empresa com os estudos, mas um complementa o outro. Em resumo, é necessário muita organização, dedicação e alguma noites sem dormir! (risos).”

-- Comente as oportunidades que foram abertas a você desde que iniciou o curso.

     PEDRO: “Muitas oportunidades. Hoje eu sou professor numa empresa respeitada nacionalmente. Conheci pessoas das cinco regiões do país; gente da Alemanha, Áustria, Suíça, França, Angola, Moçambique, Turquia, EUA e Austrália. Na Unicamp, estudei alemão por 2 anos gratuitamente. Nas festas, conheci gente das mais diferentes faculdades e cursos e ouvi os mais diferentes pontos de vista. Enfim, foram inúmeras oportunidades.”

-- Você participa de pesquisas, estágios ou projetos do tipo? Caso participe, explique como funciona e quais seus pontos favoritos.

     PEDRO: “No curso de psicologia, ao longo dos dois últimos anos você tem que cumprir 500 horas de estágios obrigatórios. É uma forma de aproximar o estudante de graduação da prática profissional. Na matemática, na modalidade de licenciatura – isto é, um determinado tipo de formação que habilita o estudante para a docência em níveis fundamental e médio – você também tem algumas centenas de horas de estágios obrigatórios a cumprir em sala de aula, sob a supervisão de um professor já experiente.
     Estou atualmente trabalhando em uma pesquisa teórica. Para iniciar uma pesquisa, você precisa definir um campo que te atrai (por exemplo, em psicologia, você tem psicologia clínica, hospitalar, experimental, forense, etc.) e pedir a orientação de um docente que atue nessa área. Sendo aceito, você se envolverá em leituras, experimentos, apresentações sob a tutela do docente com vistas a produzir e divulgar uma pesquisa. Caso você não tenha vínculos empregatícios (o que não é o meu caso), você pode fazer um pedido formal para que instituições privadas ou públicas financiem o seu projeto. Caso você seja aceito, a sua pesquisa passará a ser uma iniciação científica e você estará sujeito a exigências que o órgão patrocinador da sua pesquisa venha a fazer, como prazos e apresentação de relatórios.”

     JÚLIA: “Participo da Empresa Júnior, de Iniciação Científica e sou tesoureira da Comissão de formatura de minha turma. Bom, ambos me trouxeram experiências diferentes e que me motivam muito a permanecer no curso. A Empresa me trouxe desenvolvimento pessoal e profissional, pude aprender sobre como funciona uma organização, sobre Psicologia Organizacional e do Trabalho, além de aprender a trabalhar em grupo, a ouvir opiniões diferentes e a organizar o meu tempo. Na Iniciação Científica eu aprendi a escrever um projeto científico e a trabalhar com crianças bem pequenas. A comissão de formatura me ensinou a organizar uma festa (que é muito legal, mas dá um trabalhão), controlar dinheiro, além do aprendizado pessoal que você sempre tem quando trabalha com muitas pessoas diferentes.”

-- Já fez intercâmbio? Pensa em fazer? Sua universidade lhe oferece alguma oportunidade similar?

     PEDRO: “Nunca fiz intercâmbio, mas acredito que seja uma experiência muito interessante. Não tenho condições de fazer um agora por conta das minhas responsabilidades com o trabalho. A USP possui um órgão que gerencia a oferta e a seleção de candidatos para intercâmbio. Na psicologia, é muito comum a oferta de intercâmbio para países como Portugal e Espanha. Infelizmente, há pouca demanda por intercâmbio para países como os EUA e o Reino Unido (terras das melhores faculdades do mundo) por conta do pouco domínio de inglês do estudante brasileiro”.

-- Quais matérias você tem ao longo do curso? Encontrou alguma que julgou inusitada?

     PEDRO: “A graduação em psicologia na USP é bastante heterogênea, com forte ênfase em ciências humanas e biológicas. No primeiro ano, você terá aulas dos mais diversos assuntos: filosofia, sociologia, antropologia, neuroanatomia e neurofisiologia, história da psicologia. Somente no segundo ano você entrará em contato com um maior número de teorias e métodos propriamente psicológicos. Como foi dito anteriormente, a partir do quarto ano, você começa a colocar em prática aquilo que foi aprendido em sala de aula nos estágios obrigatórios. Em cinco anos você consegue se formar como bacharel em psicologia (o que te habilita a prosseguir seus estudos em nível de pós-graduação) e psicólogo.”

     JÚLIA: “Bom, como estou no terceiro ano do curso, já fiz muitas matérias, vou falar das minhas preferidas: Psicologia Geral e Experimental I, Teorias da Personalidade, Psicofarmacologia, Psicologia do Desenvolvimento, Psicologia Criminal e Aconselhamento Psicológico. Acho que a mais inusitada foi Psicologia Social II, na qual fazíamos muitas dinâmicas diferentes, chegamos até a deitar no chão e fazer algumas dramatizações.”

-- Como você se prepara para as avaliações e trabalhos? Tem alguma dica que futuramente possa nos ajudar?

     JÚLIA: “O curso de psicologia demanda muita leitura, muita mesmo! Acho que uma coisa que aprendi é: ao menos que você tenha 50 horas por dia, você não vai conseguir ler todos os textos que os professores passam, então, aprenda a selecionar o que é mais importante. Outra coisa que para mim é essencial é: prestar muita atenção nas aulas. Como faço bastante coisa, não tenho muito tempo para estudar, mas o tempo que estou em sala de aula tento aproveitar ao máximo e isso me ajuda muito nas provas. Em relação aos trabalhos, escolha com muito carinho as pessoas que trabalharão com você, isso faz toda a diferença.”

     PEDRO: “Não acredito que existam grandes segredos para se preparar para avaliações e trabalhos. Atenção na aula e estudo diário são mais do que suficientes para obter sucesso nas avaliações. Na psicologia é muito comum termos de apresentar trabalhos para a turma. Portanto, é importante desenvolver a habilidade para falar em público – algo que vai acontecendo aos poucos ao longo da graduação.”

-- Quais são as melhores coisas de estar na faculdade? E as piores?

     PEDRO: “É claro que cada um responderia essa pergunta de um modo particular. No meu caso, eu sempre fui apaixonado pela diversidade de opiniões, de culturas e de conhecimentos que coexistem dentro de uma faculdade. Conheci na Unicamp e na USP pessoas de diferentes regiões do Brasil e do mundo que eu dificilmente encontraria fora da universidade.
     É óbvio que você sempre vai acabar esbarrando em professores e colegas pelos quais você desenvolverá antipatia. Mas tudo isso, acredito eu, é importante pra desenvolver um espírito verdadeiramente democrático.”

     JÚLIA: “As melhores coisas são: poder conhecer muitas pessoas de diferentes gostos, cidades e opiniões, poder estudar o que você gosta e ver aplicação para aquilo, ter alguns professores que realmente te dão inspiração, as festas, os amigos e todas as oportunidades que a universidade pode trazer.
     A pior coisa para mim são as noites sem dormir, não é com todo mundo que é assim, mas eu durmo muito pouco para dar conta de tudo, além disso, ter que lidar com frustrações. Apesar de muitas portas se abrirem, muitas se fecham na sua cara, nem todos os professores são “bonzinhos”, nem todos seus desejos são realizados e nem sempre o seu trabalho será recompensado e você vai ter que aprender a lidar com tudo isso”.

-- Como você se enxerga daqui a 10 anos?

     JÚLIA: “Ainda não sei em que área da psicologia quero trabalhar, gosto de muitas! A única coisa que posso me imaginar é empregada, com estabilidade financeira, trabalhando com algo que eu ame, com filhos e ainda estudando, acho que a gente nunca deve parar de estudar!”

     PEDRO: “Trabalhando como psicoterapeuta num consultório próprio com a sensação de que estou fazendo um bom trabalho.”

-- Pretende fazer pós-graduação, mestrado, doutorado ou alguma especialização? Caso pretenda, em que? Como funcionam?

     PEDRO: “A pós-graduação é o aprofundamento dos estudos dentro de um campo específico. São pré-requisito para cargos de docência em nível superior das faculdades com mais prestígio. Para se ter idéia, em universidades como USP e Unicamp, quase 100% do corpo docente tem doutorado.
     Depois da graduação, você está autorizado a fazer o mestrado – o que, em média, leva 2 anos. No mestrado você realiza um extenso estudo sobre algum assunto sob a tutela de um orientador, sendo que, no final, você deve apresentar uma dissertação para uma banca de especialistas convidados. No doutorado – que leva, em média, 4 anos – você deverá ser capaz de apresentar alguma contribuição original acerca do seu campo de pesquisa. Assim como no mestrado, você estará sob a orientação de um docente. O resultado do doutorado chama-se tese e também deve ser validada por uma banca de especialistas.
     Tanto no mestrado como no doutorado você pode fazer um pedido de financiamento de sua pesquisa para instituições públicas ou privadas. Para tanto, você não pode ter vínculos empregatícios.”

-- Alguma vez pensou em desistir? Se sim, por que e o quê te fez mudar de ideia?

     JÚLIA: “Sim, no primeiro ano eu pensava muito em desistir e fazer Direito. Meus veteranos me falavam: “calma, tenha paciência, o curso vai melhorar, vai ficar mais interessante!” Eu tive paciência e foi a melhor coisa que eu fiz, hoje sou apaixonada pelo curso!”

     PEDRO: “Acho que todo mundo pensa em desistir em algum momento ou outro. A faculdade pode exigir muito de você. Mesmo assim, essa vontade de abandonar o curso sempre foi, no meu caso, transitória e pouco freqüente. Acho que a pessoa deve parar para repensar sua situação quando tudo vira motivo para pensar em desistir. Como eu nunca pensei muito a sério em abandonar o curso, eu não precisava nada além de uma boa noite de sono para recuperar meu interesse.”

-- O que você diria para alguém que está indeciso sobre qual curso escolher?

     JÚLIA: “Eu perguntaria: que tipo de pessoa você quer ser? Uma pessoa muito rica? Alguém que ajuda os outro? Alguém que se diverte muito? O que é mais importante para você? Essa é a primeira questão essencial.
     Em segundo lugar eu diria: não tenha medo de arriscar! Você só conhecerá um curso, de verdade, quando estiver cursando. Errar é normal, não gostar é normal e recomeçar é normal. A decisão de uma profissão é importante e deve ser tomada com muito cuidado, estudo, conversa com profissionais da área, autoconhecimento, etc., mas não pense que é uma decisão sem volta, porque não é!”

     PEDRO: “Nada muito criativo, porque essa é uma decisão pessoal e a vida vai te exigir coragem o suficiente para assumir a sua escolha, prove-se ela uma decisão acertada ou não. Acredito que a grande maioria dos jovens não teme escolher o curso; o que os faz temer de verdade é serem responsáveis por uma decisão importante.”

Psicólogo/Psicanalista
(Fonte da imagem: culturamix)


     E então, tirou muitas dúvidas? “Vida de universitário” está só começando! Sugira nos comentários qual curso você gostaria que o próximo artigo da série abordasse!


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